segunda-feira, janeiro 09, 2006

Para a CG

Este texto é a resposta a um desafio.
Fui ver um espectáculo e desafiaram-me a escrever um texto sobre o que vi. Há muito que não o faço, amiga. Perdoa-me se te decepcionar. De qualquer forma, quero aqui deixar claro que vou escrever o que senti. Sem "responsabilidades" jornalísticas. Essas ficaram para trás. Não vou justificar excessivamente o que senti ou achei. Ficarei pelo plano pessoal e nesse tudo é permitido. Quem sabe este não será um exercício de libertação.
Seis corpos num espaço aparentemente normal. Um interior de uma casa. Qualquer coisa entre uma sala e uma cozinha. Um espaço do quotidiano facilmente identificável como tal. Seis corpos perdidos nele. Seis corpos que interagem com o espaço ao qual estão confinados de forma por vezes absurda, anormal. O que procuram? Num aparente caos (que o coreógrafo chama de desordem), estes seis interpretes vão desmontando o espaço onde habitam, vão desconstruindo a realidade com um conjunto de acções que, por vezes, roçam o paranóico.
Gostei das intenções que Giles Jobin enunciou no texto que acompanhava o programa deste "Steak House", mas não gostei assim tanto do resultado.
Se a arte é uma apropriação da vida, como gosto de pensar que é, houve momentos em que me revi, de alguma forma, naqueles gestos, naquela quase histeria de movimento, de desconstrução do meio ambiente. Gostei, sobretudo, do modo como todo o cenário é destruído e reconstruído e, posteriormente, objecto de apropriação.
Gostei também da forma como cada um dos intérpretes se esbatia no espaço, se tentava confundir com este.
Mas faltou-lhe qualquer coisa. Ou será muita coisa?
Não me emocionei. Não presenciei um momento sequer que me sentisse surpreendida e isso, para mim, é fundamental.
Algo que me acontece cada vez mais: ver coisas que já vi aqui e ali, por outros criadores e, por vezes, com mais consistência, mais fôlego.
Não sei o que achaste, amiga. Mas também não me pareceste particularmente entusiasmada.
Diz-me

Beijos

2 comentários:

Anónimo disse...

A minha ideia não era que escrevesses uma crítica mas que te deixasses ir, acho que o teu potencial de escrita está para além da função utilitária e concreta de transposição de um olhar analítico para um dircurso escrito. Posso estar errada mas pensei que estás a explorar pouco a tua libertação através da invenção que é a escrita, ou seja, construir um mundo de metáforas e de imaginação que, inspirado e marcado duramente pela realidade que vives, te transporte para uma simbologia e uma terapia sem literalidade com a realidade. Pensei que um espectáculo de dança podia ser um bom exercício, mas como foi via sms a coisa não ficou bem explicada.
O que eu achei? achei interessante. como acho muitos hoje normalmente. achei que tinha questões pertinentes, que está em sintonia com uma tendência nas artes performativas contemporâneas (tanto na dança como no teatro), que é uma fase pós-desconstrução e pós fragmentação, e pós-realismo ou o pós-pós-realismo, que é o pós-abstracto, geométrico e cerebral. É uma procura de sentido na intersecção dessas coisas, mas acho que ainda estão à procura e o resultado reflecte isso. Tem coisas muito interessantes, deixa atenta a observar, à espreita dos sentidos, consegue em alguns momentos iluminar algumas intenções que surgem dispersamente em diferentes peças, mas como todo não alcança o grau de expectativa que o autor me suscita. mas não era tanto uma troca de gostares que queria. era mais que não te esquecesses de um lado teu que tens e que não precisas de nada mais do que de ti própria e papel e caneta (ou computador) para desenvolveres. Ou talvez isso não te interesse... Pode ser apenas um delírio meu. Mas eu lembro-me que tinhas jeito para pensares as coisas, não sei se era para ser traduzido em ficção ou crítica ou o que fosse... mas lembro-me que te estimulava olhar para uma coisa e construir qualquer coisa a partir dela, por escrito. Se ainda gostas, não percas. E parece-me que gostas, porque era suposto estares mais destreinada e, de improviso, tens um olhar pertinente sobre o que vistes (quer eu concorde ou não). Isso só depende de ti e ninguém, nem nada, to pode tirar.
Muitos beijinhos
CG

Anónimo disse...

Percebo perfeitamente o teu desafio, amiga. E fico contente por veres esse potencial em mim. Tens razão, escrevi de improviso. Quando vi não foi com a intenção de registar, ou de reflectir. Mas fez-me bem, apesar de estar muito casada, escrever qualquer coisa. Vou tentar estar mais "atenta".
Beijos

Princesa das estrelas