quarta-feira, novembro 29, 2006

corpo em movimento


Ontem fui ao teatro.
Que saudades.
Faz agora dois anos que saí da Capital, que me deixei de jornaladas, de teatros e de espectáculos de dança.
Não tenho saudades de redacções cheias de fumo, de pessoas que começam a trabalhar às 4 da tarde, de notícias de agenda, de jornalismo de rabo sentado na cadeira.
Sinto falta... sinto falta de falar com pessoas interessantes, de encenadores que expliquem o seu ponto de vista, de coreógrafos capazes de me iluminar, de intérpretes cheios de singularidades.
Ontem vi o Miguel Borges, e já não o via há algum tempo. E que saudades!
Ali, no escuro de um barracão na Casa dos Dias d'Água, vasculhei a mala, como nos velhos tempos, à procura de papel e caneta. E lá estavam.
Escrevi o seguinte:
Expressividade máxima.
Fisicalidade quase animal.
O Miguel Borges é assim. Um corpo em movimento. Há muito que não o via no palco. quando terá sido a última vez? Um Beckett? Um Spiro Scimone? Não me recordo ao certo. Mas é muito reconfortante vê-lo para além dos anúncios da cerveja.
Gostei de o ver. O seu corpo em movimento; a sua totalidade enquanto actor que passa, em grande parte, pela fisicalidade que imprime aos seus personagens.
Esta noite, enquanto o via, pensei na vida, na sua celebração, na alegria de estar e de poder partilhar.

Acordei

Acordei
Abri os olhos
A luz era forte
tão forte que me cegava
Voltei a fechá-los
Esperei que tudo fizesse mais sentido
E quando abri novamente os olhos vi com clareza
Lá estavas
a rir
a rir muito
a rir de nós
o teu riso não permitia tristezas
não permitia choro
nem infelicidade
Porque choras tu?
Por mim?
Não o faças.
Eu aqui estarei sempre aí
A minha ausência só se fará sentir se o esquecimento o permitir
Lembrem-me como sempre fui
Recordem-me na memória de cada um de vocês e eu serei ainda mais do que fui
porque serei o somatório de todas as memórias
Acordei
O dia não era tão azul como desejava
A vida não era tão plena como eu queria
Mas, estranhamente, a tua ausência não doía tanto
Porque em todas as bocas
em todas as palavras dos que te conheceram e amaram
te conheci melhor
mais completa
Acredito que sejas assim

(P.S. Para a Cláudia Magalhães, para a Susana C P)

terça-feira, novembro 28, 2006

A vida também é isto




Seis meses. Foi há seis meses. Ele e ela estavam sentados numa pequena esplanada de um não muito grande restaurante (em tamanho, porque a qualidade da comida era suberba), numa vila ainda mais minúscula perdida num alto lá para os lados da Toscânia.

Entre uma bela garrafa de vinho, uma piza de cogumelos frescos e um atum braseado, eles perceberam que a vida também pode ser isto: puro prazer, pura degustação. De comidas, de bebidas, de cheiros, de sentimentos. Ela sentiu-se plena e não sabe se lhe disse isso. Obrigada, amor.

segunda-feira, novembro 27, 2006

incertezas existenciais

Há momentos em que me sentiria uma pessoa muito mais feliz se acreditasse que Deus existe. Gostava de ter a certeza que existe um lugar melhor, onde a relva é mais verde, as pessoas mais felizes e o sofrimento menos usual.

domingo, novembro 26, 2006

Em choque

E, de repente, muita coisa parece perder o sentido, muitas das nossas preocupações resumem-se a pouco mais que nada perante algo como a morte.
Quatro amigos partiram para a Patagónia à procura de umas férias de sonho. Quatro cúmplices, quatro pessoas à sua maneira especiais, capazes de passar três semanas juntos em situações nem sempre favoráveis. Foram à procura de uma beleza sem explicação, à procura de momentos únicos, especiais, que fazia sentido partilharem uns com os outros. E acabaram por morrer de uma forma brutal e sem sentido.
Não conheci o André, nem sequer o César; vi a Maria José uma mão cheia de vezes. e a Cláudia, apesar de não ser íntima era, dos quatro, a que melhor conhecia. Amiga de amigos comuns, lá nos encontrávamos em aniversário, à porta do cinema, ou na rua. Sempre com um sorriso nos lábios, sempre com uma frase amiga.
O que sinto em relação a estes quatro amigos é, no entanto, muito forte. De tão pequenino que o mundo é, tínhamos vários amigos comuns. Embora nunca tenha visto o César, ele chegou a ser tema de conversa em algumas situações. Alías, há cerca de duas semanas estava a jantar em casa de uns amigos comuns quando ele enviou um sms a explicar o como as férias estavam a ser espectaculares... nesse mesmo jantar soube que a susete (amiga dos tempos da faculdade) era muito amiga da Zé...
A notícia da morte destes quatro amigos deixa-me sem palavras que me consolem e sem palavras de consolo para as pessoas que me são tão queridas e que sei que neste momento estão a sofrer uma enorme perda. A Susana, a Susete... o que dizer, o que fazer perante semelhante brutalidade? O que fazer para atenuar a dor e a tristeza?
Sempre que penso neles vejo a Cláudia com aquele seu ar despachado e risonho, o mesmo ar com que me encontrou há uns anos na rua, eu grávida de fim de tempo a bufar de calor e ela com o seu ar se virou para mim e me disse "finalmente vou almoçar com alguém que está mais gorda que eu". Tenho a certeza que foram dias fantásticos os que passaram na Patagónia, tenho a certeza que o que viveram momentos inesquecíveis.
Tenho muita pena que não voltem para contar o quão maravilhosos foram os cumes, as crateras, os glaciares os lagos que viram. Tenho muita pena de não saber, por intermédio dos amigos comuns, como tudo foi maravilhoso.
Deixo-lhes aqui a minha homenagem. A eles, às famílias e aos muitos amigos que tinham.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Agora sim...

A minha família voltou a estar completa.
IUPI

segunda-feira, novembro 20, 2006

Ouve lá pá, estás parva?

Amiga ouve de outra amiga um desabafo inacreditável em relação ao seu próprio marido.
Amiga fica, sobretudo, triste por amiga não dizer o que pensa ao marido e, em vez disso, dizer a amiga.
Amiga fica indignada mas, antes disso, pensa se marido, afinal, não é um sacaninha no trabalho.
Amiga telefona a outra amiga.
Amiga chora de tristeza e indignação e acaba por perceber que afinal não há pessoas perfeitas e que, mesmo as amigas supostamente modelo, também têm pés de barro e esqueletos escondidos no armário.

Desabafos de uma mãe temporariamente solteira, ou porque é que não sou amiga do Super-Homem do de outro herói qualquer que saiba voar?

Ele há dias difíceis.
Isto de estar sozinha em casa com o filho durante uma semana rapidamente se pode transformar num pesadelo...
Na passada sexta-feira, e depois de uma semana e meia de antibiótico que ainda não tinha acabado, tive de voltar à pediatra com o meu filho. Só para terem uma ideia, foi a terceira vez no espaço de um mês. Já para não falar da chatice de ter o miúdo sempre atafulhado de medicamentos, a coisa já se cifrava pelos 225 euros (3x75).
Ir para uma urgência com o nosso filho de dois anos às 9 da noite, já não é fácil. Se estiver a chover, ainda pior. Se o consultório não tiver estacionamento... pior ainda.
Mas a coisa até podia não ser muito má. Só esperámos 1 hora (o tempo médio de espera pode ascender às 3) e a médica, consciente de que os pais não são ricos, nem cobrou a consulta. Obrigadainha Dra Odília.
Fazendo as contas ao tempo, eram 10 da noite e eu tinha uma criança quase a dormir nos braços e uma receita médica para aviar. Resolvi confiar no serviço 1820 (o antigo 118) que se gaba constantemente de ter informações sobre farmácias de serviço e restaurantes. Liguei "Podia-me dizer, por favor, se há alguma farmácia de serviço na área da Estefânia, Saldanha ou Praça do Chile?". Depois de 5 minutos de espera (cinco minutos numa chamada de serviço acrescido não é brincadeira), o rapazito lá me diz que não, que a mais perto é na rua Alexandre Herculano (quase no Rato) ou na Praça de Londres. Praça de Londres aqui vou eu.
A dita farmácia fica quase numa esquina. Estacionar é quase impossível e eu tinha um miúdo de 2 anos e 14kg para transportar... não foi fácil e ainda ouvi uns anormais a buzinar.
Chegados ao interior da farmácia não houve quem se compadecesse com a minha triste figura de mãe a desfalecer com um puto ao colo. Espera pela tua vez e é se queres, devem ter pensado. e eu esperei. E enquanto esperava vi uma placard electrónico no interior da farmácia onde estavam mencionadas as farmácias de serviço. E eis o meu espanto quando vejo que a farmácia do largo da Estefânia estava de serviço... ai que vontade eu tive de partir a boca ao tipo do 1820. Só mais uma coisinha. De que me serve aquele tipo de informação quando eu já estou DENTRO de uma farmácia de SERVIÇO????
Chegada ao carro, parti em direcção a casa, a rezar para que não chovesse e para ter um lugarzinho à porta de casa. São Pedro atendeu-me. O mesmo não posso dizer do Deus do Estacionamento. Fiquei a mais de 100 metros de casa. Tive de carregar o Henrique que, entretanto adormecera, e não foi só até à porta do prédio. Lá dentro, aguardavam-me três fantásticos andares de escadas para galgar...
Isto de não ter gajo em casa não é fácil.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Até o tempo me contraria

Eu, que sou uma rapariga pouco dada a sapatos à senhora, ontem decidi sair de casa com eles postos nos pés, em vez das muito adoradas botas para todo o serviço. Lá fui, feita boneca, para a natação com o meu filho. Impermeável, e apesar de ter ouvido nos noticiários da manhã que ia chover, também não vesti. Preferi um casaquinho de lã. quentinho, é verdade, mas não impermeável. Guarda-chuva? Nem me lembrei. E o que aconteceu? Abateu-se sobre a cidade um temporal a valer, daqueles que fazem do dia noite às 15h.
Hoje, armada em precavida, saí de botas e de impermeável. Mas o tempo fintou-me.... estou tramada. Até o tempo me contraria, caraças.

quarta-feira, novembro 15, 2006

É bom, é muito bom


Já leram?
é bom, é muito bom.
Bem escrito, de fácil leitura. Parece um romance. Mas não é.
Comprem.
Eu agradeço.

terça-feira, novembro 14, 2006

Dia nã, nã, nã

Hoje sinto-me como se tivesse sido cilindrada por um camião... estou cansada, tenho dormido pouco e estou com muito trabalho...

sexta-feira, novembro 10, 2006

És feia, és má!!!

Disse-me hoje o meu filho à hora do jantar, com os olhos rasos de lágrimas, depois de eu lhe ter dado a primeira bofetada da sua vida. Doeu-me tanto esta frase.
Li, há uns tempos, que uma bofetada na cara é o expoente máximo da humilhação para uma criança. Não concordo. Mas hoje, quando olhei para aquela carinha triste e verdadeiramente zangada comigo, senti-me a pior mãe do mundo. A mais cruel.
O pior foi quando, três minutos depois, ele me deu um beijo e disse que me desculpava... aí sim, a humilhada fui eu.
O meu filho tem dois anos e são muitas as vezes em que me tra do sério. Costumo dizer que 1 mês de creche estragou o que demore dois anos a construir. Faz birras por tudo e por nada, grita, desafia-nos...
Às vezes deixa-me no limite entre a sanidade e a loucura total. Mas hoje fui feia e fui mesmo muito má

terça-feira, novembro 07, 2006

Este carrossel não pára

Sempre a rodar, sempre a girar.
Agora estou casada com uma quase celebridade. O meu gajo escreveu um livro, eu editei-o e agora esperamos que se vendam muitos exemplares.
A todos os amigos fica a nota: 8% do preço de capa (sem IVA) revertem a favor deste casal de amigos... comprem, ofereçam no Natal que a gente não leva a mal.

segunda-feira, novembro 06, 2006

O mundo é um lugar estranho...

Disse-me há pouco tempo uma amiga. E que sábias palavras

domingo, novembro 05, 2006

Agrhhhhh

Há dias maus.
Vá-se lá saber porquê, ando nesta azáfama e nesta confusão de sentimentos a tentar manter o mínimo de equilíbrio possível. Hoje tive de levar com a fúria de uma amiga porque não tinha sido avisada das últimas e graves notícias.
Desculpem se me esqueço de contar a alguém, mas eu própria não sei muito bem como lidar com isto. Não está fácil e eu não tenho um manual de instruções.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Gosto de ti

O meu pequeno mundo é povoado por uma meia dúzia de seres fantásticos. Descontando os pais, gajo e filho (que esses fazem parte da mobília),´restam as minhas gajas. E, eu até tenho amigos homens,mas as minhas gajas são insubstituíveis, são lindas, maravilhosas, ajudam-me a levar a vida com mais tranquilidade e, sobretudo, com mais alegria.
Neste momento, uma das minhas favoritas, aquela que tem o cartão de acesso mais directo ao meu coração, está triste, muito triste. Está a passar por algo que só posso imaginar. Está a passar, creio, pelo mesmo que passou o meu marido há um ano e meio quando lhe disseram que eu podia morrer a qualquer momento.
Eu, que não sei o que é estar desse lado, amiga, que só sei o que é estar do outro, queria muito dividir contigo essa dor e essa angústia que estás a sentir. Mas não consigo. Tudo o que possa fazer ou dizer vale de muito pouco e em nada pode alterar o que estás a sentir. Mas quero que saibas que o meu pensamento nem um momento está longe de ti e que és uma pessoa muito bonita. E que a vida tem de te reservar coisas boas.
Gosto de ti.

Mas que porra!

Quando crescemos a vida altera-se significativamente: primeiro com as responsabilidades da nossa própria relação, depois a casa, os filhos, o trabalho... dou por mim, em algns das, a desejar ser pequenina, muito pequenina, assim como o meu filho, cuja preocupação maior é ver dois ou três episódios do Ruca de seguida.
Quando entramos na mítica barreira dos trinta, os problemas inerentes à nossa vida alargam-se aos nossos pais e à saúde deles. No meu caso, à minha própria.
Este tem sido um ano terrível. Comigo em recuperação sempre pensei que as coisas fossem mais fáceis, mas olho para o lado e só vejo desgraça e tristeza. Os meus pais, os pais dos meus amigos, os maridos dos meus amigos... A vida deixou de ser aquela coisa bonita e despreocupada para estar sempre envolta num papel muito grosso, que não deixa ver o que está lá dentro, sempre cheia de surpresas e muitas delas já não são agradáveis.
Quando pensamos que vamos, finalmente, ter alguma paz, que vamos começar a viver a vida com alguma plenitude, longe do buliço da adolescência, aí vem mais uma catanada e entramos na fase da suspensão, tudo em suspenso.