terça-feira, janeiro 30, 2007

Ele há dias que parecem noites

Não me bastava estar desempregada. Não me bastava o raio da chuva que não me larga. Não me bastava o meu humor de cão, o meu pai internado...
Não me bastavam as incertezas face à saúde a à felicidade dos que me são muito queridos. Não me bastava não ter estômago e por isso ter de levar hoje (logo hoje) a injecção de vitamina B12.
Ainda tinha de terminar o dia a ver o filme do Mel Gibson!
Mas que raio de tendência a minha para procurar o que não devo. Depois do Braveheart juro que ste foi o primeiro o último filme do gajo que vi. Eu não quero violência, não quero ver corações a saltar em mãos, cabeças a rolar, mulheres a ser violadas... por mais verdadeiro que tudo aquilo seja, basta. Eu mereço alguma paz de espírito. E que ela me venha da ficção, dessa mesma ficção que se pode consumir a pedido: pago o bilhete e, durante duas horas, vou alhear-me do meu mundo. Não quero um mundo seja ainda pior que o meu.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Odeio

hospitais. Aquele cheiro a desinfectante que se agarra a nós. As camas velhas, as janelas de madeira por onde o vento assobia.
Por que raio não me consigo ver livre deles?

sexta-feira, janeiro 26, 2007

quinta-feira, janeiro 25, 2007

E assim...

se cria mais uma ilusão de mudança.

Por mais voltas que dê...

Não consigo fintar eternamente a realidade. e ela chegou hoje, na forma de carta. É verdade. Remetida pelo Hospital de Santa Cruz e a lembrar-me que está a chegar a hora h... A seis de Março as análises, a ecografia e o rx. E a 23 de Abril a consulta.
Começou oficialmente a contagem decrescente para mais uma confirmação da minha sobrevida.

Pensamentos dispersos

- Os dias passam a uma velocidade assustadora. Um a seguir ao outro mas, por vezes, parece que durante o sono me enganaram e passaram quatro ou cinco de uma vez.
- A vida é mesmo uma porra. Há sempre uma areia na engrenagem para nos atrapalhar. O problema é quando a areia se transforma em deserto e, antes de termos tempo para nos levantarmos de uma das quedas que a vida nos proporciona, já estamos outra vez de queixos na areia a ver tudo de uma perspectiva baixa, muito baixa.
- Por que motivo sofrem aqueles que amamos? A cada dia sou surpreendida com um novo drama ou o avivar de um velho... e como não vivo sem os que me são queridos, não consigo deixar de pensar neles e na tremenda injustiça de tanto sofrimento.

Espera...

Porque não toca o telefone?

quarta-feira, janeiro 24, 2007

morrer em vida

A morte é uma evidência da vida, todos sabemos.
O meu irmão, que é enfermeiro e lida constantemente com esta evidência, dizia-me há uns anos atrás e em tom algo jocoso, que a morte era a primeira doença sexualmente transmissível...
Nos últimos dois anos tenho convivido muito com esta evidência da vida. Talvez até em doses excessivas para alguém que tem 30 anos. O cheiro da morte, a sua ameça, e, em outros casos, a sua evidência, têm-se feito sentir com grande evidência aqui para as minhas bandas.
Na segunda-feira, em conversa com uma amiga, ela dizia-me, referindo-se à doença do seu pai, que a coisa que mais impressão lhe fez, durante uma fase mais aguda, foi a sensação de que ele estava a desaparecer em vida. E o que ela me disse faz todo o sentido porque é exactamente o que sinto em relação ao meu pai. Ele está vivo, sim... mas pouco vivo. A sua vida é tão pequenina, é tão pouca vida. Sinto-o a desaparecer como areia fina por entre os meus dedos e tenho a ilusão de que está vivo porque o vejo todos os dias. Só que quando penso a sério no assunto percebo que ele já não é um vivo completo, não se sente verdadeiramente neste mundo. É como se ele estivesse em transição entre dois mundos, o dos vivos e o dos mortos, e eu, que não sei de que lado ele vai ficar, tento puxá-lo, com todas as minhas forças, para o lado de cá.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Será que é desta?




Dois anos e meio depois.
Esta é uma das muitas tarefas que me proponho concluir durante este período de nojo.

Vida interrompida

Aqui estou eu. ainda não bem desempregada, mas já não empregada.
Aqui estou eu em casa, supostamente sem nada que me ocupe mas, nas verdade, atafulhada de afazeres: o pai para levar ao hospital, a mudança do quarto do filho, a arrumação do escritório, mais o filho doente que é preciso levar ao médico e que é preciso cuidar em casa. E a casa, não podemos esquecer a casa, a ementa do almoço e a do jantar também. O telefonema aquela amiga, a visita à outra.
E, tudo muito espremidinho, continua a falatar o tempo para mim. Ainda não li (O Ruben Fonseca vai a meio), o tricot anda a meio gás, e a escrita, bem essa nem se fala.
Falta-me tempo, penso. Mas como se tenho todo o tempo do mundo?

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Porque ainda não te escrevi


Primeiro eu. Lembro-me claramente do teu olhar enquanto me dizias que já tinhas mais de cinquenta anos e que era uma injustiça ser eu, com 28, a ficar doente. "Como é que Deus nos fez isto?", perguntaste. Eu nã tinha resposta para te dar. Porque já tinha virado as costas à religião há alguns anos e porque estava ainda, eu própria, à procura de uma orientação, algo que me fizesse ir na direcção certa; procurar resolver o problema, pensava, sem revoltas e, sobretudo, sem entrega.
Tu lá ficaste com o teu coração de mãe dilacerado a pensar o que fazer para me ajudares...
Depois os acontecimentos foram-se sucedendo muito rapidamente, sem tempo para grandes conversas ou grandes reflexões: exames, mais exames, consultas médicas, diagnósticos, prognósticos, operação, quimioterapia, radioterapia, mais internamentos. E tu sempre ali, firme como uma rocha. Todos os dias me ias visitar. Tu e o pai, claro. tomavas conta do meu filho, tomavas conta do meu marido... tomavas conta de mim.
No teu olhar a tristeza e a revolta. Mas para mim tinhas sempre uma palavra de conforto e de luta, "não podes desistir". E eu lutei, porque me estava na alma mas, sobretudo, porque assim me tinhas educado, a não baixar os braços perante a adversidade. E esta nossa luta foi bem dolorosa. Digo nossa porque às minhas dores físicas junto as da tua alma. Tu sofrias por mim.
Depois melhorei e pensei que poderíamos ter alguma paz, que o nosso pequeno clã poderia respirar de alívio.
Mas tu já estavas a empreender uma outra luta: a do pai. Poucos meses depois foi a vez dele. Cancro assim tão logo a seguir ao meu? aí sim, sentiste-te injustiçada. O teu Deus ainda não te tinha dado tempo de te recuperares de uma dor e já estavas tu a ser arrastada, novamente, para os corredores dos hospitais, para aquele ambiente mórbido de batas brancas, meias conversas...
Mas tu, não sei com que forças, lá te mantiveste novamente firme, a amparar o pai nos teu braços, com tanta ternura mãe, tanto amor. Que dedicação.
E o caso dele, que aparentemente era bem mais fácl que o meu, foi-se complicando e complicando até chegarmos aqui a este beco. E estamos assustados. Tu, tu estás exausta, esgotada. Nem sequer tens tempo para as tuas muitas dores. Suspendeste a fisioterapia... "Mas como é que eu posso deixar o teu pai sozinho em casa. Logo agora?".
És maravilhosa mãe. és uma guerreira, uma mulher inteira, completa, defensora da sua família.
Um dia quero ser como tu.
Obrigada

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Vazio

Estou sentada no meu posto de trabalho mas é como se não estivesse.
Os meus pertences foram empacotados, o meu lugar estava ocupado por outra pessoa e o meu patrão estava a dormir.
Passei a manhã a rever mentalmente os meus últimos dois anos de actividade profissional e a apagar e-mails.
Triste não é?

quinta-feira, janeiro 04, 2007

...

Apetecia-me escrever qualquer coisa bonita e poética, repleta de esperança, sobre o ano que agora começou. Mas não tenho motivos para outra expressão que não seja "FODA-SE. ASSIM NÃO DÁ.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Ano Novo...

Depois de quase duas semanas de ausência, eis-me de volta ao conforto do meu teclado e da minha casa.
Foram dez dias de intensa vida social passados entre canjas, sandes de galinha, carne em vinho e alhos, bolo mel, broas de mel, carne em vinho e alhos e mais uma canjinha para a viagem.
Eu bem sei que é só uma vez de dois em dois anos mas, acreditem, é o suficiente.
Não fosse o caso de não ter estômago e acho que estaria entupida até à garganta.
Agora que o ano velho se foi, e com ele as iguarias acima descritas, estou de volta ao mundo real, não o mundo que deixei antes de partir mas, mesmo assim, um mundo real. Um mundo com patrões sacanas e de memória curta....
Parece que vou entrar neste ano à procura de emprego.
E que descansem os senhores o Governo porque, mesmo sem estar a par das novas alterações à lei do subsídio de desemprego, eu vou estar activamente à procura de trabalho