quarta-feira, janeiro 24, 2007

morrer em vida

A morte é uma evidência da vida, todos sabemos.
O meu irmão, que é enfermeiro e lida constantemente com esta evidência, dizia-me há uns anos atrás e em tom algo jocoso, que a morte era a primeira doença sexualmente transmissível...
Nos últimos dois anos tenho convivido muito com esta evidência da vida. Talvez até em doses excessivas para alguém que tem 30 anos. O cheiro da morte, a sua ameça, e, em outros casos, a sua evidência, têm-se feito sentir com grande evidência aqui para as minhas bandas.
Na segunda-feira, em conversa com uma amiga, ela dizia-me, referindo-se à doença do seu pai, que a coisa que mais impressão lhe fez, durante uma fase mais aguda, foi a sensação de que ele estava a desaparecer em vida. E o que ela me disse faz todo o sentido porque é exactamente o que sinto em relação ao meu pai. Ele está vivo, sim... mas pouco vivo. A sua vida é tão pequenina, é tão pouca vida. Sinto-o a desaparecer como areia fina por entre os meus dedos e tenho a ilusão de que está vivo porque o vejo todos os dias. Só que quando penso a sério no assunto percebo que ele já não é um vivo completo, não se sente verdadeiramente neste mundo. É como se ele estivesse em transição entre dois mundos, o dos vivos e o dos mortos, e eu, que não sei de que lado ele vai ficar, tento puxá-lo, com todas as minhas forças, para o lado de cá.

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