quinta-feira, maio 15, 2014

Satisfaz?

Hoje era um daqueles dias em que só queria ficar no sofá, de pijama, a ouvir música e a dar beijos na Alice.
Quis o destino que a minha empregada precisasse do dia de hoje, o que me obrigou a ficar em casa e ajudou neste meu desígnio.
Mas foi sol de pouca dura. Tive de trabalhar, tive de ir à rua, tive de ir buscar o Henrique à escola e levá-lo ao futebol. E foi no regresso a casa que a bomba caiu no nosso carro.
«Mãe acho que vai ficar chateada comigo. Tive Satisfaz a Português.» WTF? Não estava a acreditar no qua estava a ouvir. «O quê? Estás a brincar com a mãe. Olha que hoje, depois da derrota do Benfica, não é um bom dia para esse tipo de brincadeiras», disse-lhe eu. Mas não era brincadeira. Era mesmo verdade. E eu passei-me da marmita. Ele ainda me atirou com um 80% a Matemática. Mas não me animou. Principalmente porque já tínhamos feito aquela ficha os dois e ele tinha tido exactamente aquela nota. e até tínhamos corrigido os exercícios que ele errou (e que na maioria dos casos, voltou a errar). Fiquei lixada. Mesmo. Que porra, não bastava o Benfica ter perdido a Liga Europa, e ainda tinha de levar com este filme? Tive de vestir a capa de má da fita e dizer-lhe umas quantas. Não era nada disto que tinha planeado. Eu só queria ficar no sofá. Só isso. E ali estava eu, carro estacionado à pressa para ver com os meus olhos aquele Satisfaz, que era um miserável 54%.
Gritei, barafustei, ralhei... ele pediu desculpa, mas isso ainda me irritou mais. E depois veio o discurso do «vocês nunca estão satisfeitos, nunca vêem o lado bom, só o mau. Querem sempre mais. Só sabem criticar.» Caraças que o cabrãozinho é mesmo um manipulador de primeira.
E eu não parava de pensar que hoje não era o dia. Hoje era para chorar o Benfica e a má sorte de ainda ter o Cardozo na minha equipa.
Mas não, ser mãe também é isto, também é não poder carpir as mágoas quando queremos. E por isso ali estava eu a discutir, a ameaçar.
Agora temos fichas todos os dias até aos exames nacionais.
Eu não quero que ele seja o melhor do mundo, nem sequer o melhor da turma. Não faço esse tipo de pressão que foi uma merda de uma maldição que tive sobre mim. Mas fico lixada quando as notas dele são más porque ele é preguiçoso, porque é distraído, porque não se empenha. E isso deixa-me mesmo chateada.
Por isso o fim de tarde foi merdoso, comigo a ralhar, com ele a fazer uma ficha e a pedir-me, durante o jantar, se podíamos falar de outra coisa qualquer. E logo hoje, que eu só queria estar no sofá a carpir mágoas.
Amanhã é outro dia. Mas macacos me mordam se ele não tem boas notas!

9 comentários:

wwwalittlebitofppink.blogs.sapo.pt disse...

Olá... Não fique assim com ele... Sou professora de português e sei que muita das vezes há matérias que os miúdos simplesmente não gostam e não vão lá.
E deixe-me só fazer um alerta - e em nada estou a criticar a sua postura de mãe porque cada um educa da forma que acha melhor e eu também "ouvia" dos meus pais quando tinha notas mais fracas. Mas já vi situações de mães que ralhavam com os filhos por causa das notas e no teste seguinte, mesmo sabendo a matéria e eu vendo isso nas explicações que dava, com o medo de voltar a falhar e desiludir os pais não conseguiam uma boa nota!

Um beijinho

Anónimo disse...

Não sei o que é pior, se gritar por causa de uma nota baixa se vir aqui contar essa figura. Se fosse mãe de um menino/a com necessidades especiais educativas...ahhh pois mas não é, e como tal, o seu filho tem de ser muito bom. Conte até 10 e repense o que escreveu.

IPQ disse...

Cara Catarina Dias, muito obrigada pelo seu comentário. é sempre importante ouvir a opinião dos outros, principalmente no seu caso, sendo professora.
Vou tentar moderar as minhas críticas.
Já o anónimo que deixou aqui este outro comentário...eu não quero que o meu filho seja muito bom. Eu quero que ele seja o melhor que consegue. Não tem de ser melhor do que os outros, nem o melhor da turma, nem o mais esperto, nem o mais rápido... mas tem de dar o melhor de si. é só o que tenho para lhe dizer.

Helena Barreta disse...

Quando sabemos que têm capacidade para mais e melhor é difícil entender a preguiça e a pressa em entregar os testes. Tenho dois sobrinhos a lidar com este assunto e as preocupações e queixas são iguais às suas.

Um abraço

Bom fim de semana

Maria disse...

Inês,

Repense a forma como fala do seu filho Henrique aqui no blog e pense bem se acha que vale a pena expô-lo desta forma. Por vezes o problema não é aquilo que contamos, mas a forma como o fazemos. Um dia ele vai crescer e não me parece que vá gostar do que lê, sobretudo quando é sempre tudo tão negativo.

Isto não é uma crítica, é antes uma chamada de atenção de uma leitora que gosta imenso de si.

Anónimo disse...

Percebo-a lindamente...
Posto isto, talvez tivesse sido boa ideia ter-lhe perguntado como é que ele se sentia e o que é que ele achava da nota. Assim ele próprio percebia, pela cabeça dele, o que se estava a passar e procurava a solução e aí sim, a mãe estava lá para ajudar!
A verdade é que o menino também não deve ter ficado feliz com com o 54%.

Anónimo disse...

Que horror...estragar a noite do miúdo porque ele teve satisfaz...a sério eu leio cada coisa. Se fosse negativa ok, mas ele teve positiva, reparou? Positiva baixa, mas positiva. Aliás se reage assim a um satisfaz nem quero pensar se for negativa.

Repense lá a forma como reage. Diz que não quer que ele sinta a "maldição" que sentiu, nas olhe, a continuar assim é isso que vai acontecer.

Rita

IPQ disse...

Cara Maria, lamento que fique com a ideia que eu só critico o meu filho. Se calhar é essa a ideia que passa por eu escrever essencialmente quando as coisas correm mal. Mas a verdade é que há muitas outras coisas sobre o Henrique que são maravilhosas e que fazem dele um menino especial. E descanse que ele não há-de ser um traumatizado com o que a mãe escreve. Quando ele tiver maturidade para ler este blogue, vai perceber muitas outras coisas mais importantes. Sobre a mãe, sobre o amor e o afecto. E também sobre os desabafos do momento.

Anónimo disse...

Olá.

É a primeira vez que comento o seu blog, alias acabei de o descobrir. Eu também tenho um filho no 4ª ano e que fez exames nacionais esta semana e como a Inês também me chateia e muito quando ele tem satisfaz não por não saber mas por ser preguiçoso e por querer ser sempre o primeiro a acabar. Lá está se ele tivesse dificuldades eu podia aceitar mas tendo ele muitas capacidades chateia-me porque a obrigação dele com esta idade é estudar e dar o seu melhor.
Desculpe o comentário longo mas revi-me no seu post e não pude deixar de comentar e dizer que a compreendo.
Sofia