quinta-feira, março 28, 2013

Carta ao meu pai

Olá pai, espero que estejas bem. Espero que estejas a passar este dia, o teu dia de aniversário, de uma forma diferente. Vocês, os mortos comemoram os aniversários? Espero bem que sim.
Espero que daí nos consigas ver, embora tu saibas que eu tenho as maiores dúvidas em relação a isso. Se nos acompanhas saberás que nestes quatro anos e meio muita coisa mudou na nossa vida.
Eu continuo com a minha vida, como tu querias. Não voltei a ficar doente e já só tenho consultas anuais... tu bem me dizias que tudo ia correr bem. Despedi-me do emprego que tinha, criei a minha própria empresa... às vezes nem eu própria acredito que dei este passo, mas a verdade é que dei e a ajuda da mãe foi preciosa.
O Henrique está crescido, está no terceiro ano. De vez em quando pergunta por ti, mas, não fiques triste por favor, acho que ele já não se lembra muito bem de ti, da tua cara... vai repetindo histórias que lhe contamos mas tenho dúvidas que se lembre mesmo de ti, de tudo o que brincaste com ele, dos passeios, das manhãs passadas na tua cama a ver desenhos animados...Está no terceiro ano, tem boas notas, é um menino meigo mas com um espírito muito rebelde. Às vezes lembra-me o mano...
O mano voltou a casar e parece-me bem, mas espero que ele te vá mantendo a par do que se passa na sua vida.
A mãe, bem a mãe é uma guerreira, vai arrepiando caminho e levando a sua vida em frente. Mas nem sempre é fácil. Agora, por exemplo, acho-a triste. Andou aí numa fase super bem disposta, arranjada, bonita, vaidosa, com um espírito positivo que só visto... mas passou-lhe. Volta e meia fica assim, mais triste, vazia, sem brilho no olhar. E só o nascimento da neta a parece alegrar.
Sim, pai, eu estou grávida. De uma menina. Vai chamar-se Alice. Nem sei bem o porquê do nome. Não é uma homenagem a ninguém em particular, não é um daqueles nomes que eu tivesse na cabeça desde sempre... é simplesmente um nome do qual gostamos: um nome redondo e feliz. Espero que gostes.
Hoje acordei a pensar que a minha filha não vai conhecer os seus avôs... e fiquei triste. Por ela e por mim. Imagina as coisas fantásticas que iria aprender contigo, os passeios, as idas à praia...
resta-me falar-lhe de ti e esperar que o pai lhe fale do outro avô. Eu acredito que as pessoas só morrem em nós quando deixamos de a lembrar, quando deixamos de falar delas... eu eu recuso-me a esquecer-te.
Hoje é um dia triste, amanhã espero que seja melhor.
Quando a Alice nascer vou lembrar-me e lembrá-la de ti!

Um beijo meu
Inês

3 comentários:

Helena Barreta disse...

Com certeza que o Henrique e a Alice vão ouvir falar muito dos avôs.

Um abraço

Anónimo disse...

Todos temos saudades das pessoas de quem gostámos que ainda hoje gostamos e que sempre gostaremos. Apesar de não estarem fisicamente presentes estão e estarão sempre em nossos corações.Sentimos a sua falta e temos dias em que sentimos muito mais a sua falta do que outros. Temos que ser fortes e tocar a vida para a frente.
Um abraço (J.P)

A Marafada de Algodão Doce disse...

Não te conheço mas a carta fez-me chorar!

http://docemarafada.blogspot.pt/