quinta-feira, abril 23, 2009

Afectos

Neste dia do Livro que está quase a terminar, e a pretexto de o lançamento de um, vou falar de afectos. Eu sou uma mulher de afectos. Gosto de me entusiasmar com os pequenos detalhes, com a espuma dos dias. Não pretendo mudar o mundo, acabar com a guerra nem com a fome... talvez por isso nunca tenha desejado candidatar-me a miss. Não acredito em muitas das frases feitas que ouço; já perdi a ingenuidade de achar que todas as pessoas têm um "fundo bom", ou que são apenas levadas pelas circunstâncias da vida. Para mim há mesmo pessoas que são más, gajos que tiram o dia para enfernizar a vida dos outros, filhos da puta mais ou menos encartados que, por dá cá aquela palha, prejudicam o seu semelhante. Tiveram azar na vida? Sofreram horrores? Não quero saber. Simplesmente não quero saber e, cada vez mais, apago essas pessoas da minha vida, como se fossem cromos que decido não colar na minha caderneta. Porque não merecem o trabalho.
E depois, depois há aquelas pessoas que nos fazem chorar só de olhar para elas, aquelas pessoas que por mais mazelas que carreguem de uma vida com muita dor e perda, continuam em frente e não se deixam vergar pela dor.
Hoje estive com duas pessoas assim, pessoas que admiro do fundo do meu coração.
Uma delas é o Manuel Acácio, um dos seres humanos mais puros e generosos que me passou pela frente nos últimos meses. A outra é Paula Teixeira da Cruz, uma mulher que admiro pela sua fibra, pelos seus princípios, por não se deixar vergar nas suas convicções, por tanto sofrer no seu papel de mãe e, mesmo assim, de não baixar os braços e viver a sua vida com a alegria que lhe é possível.
Tive o privilégio de estar com estas duas pessoas que tanto admiro no mesmo evento, o lançamento do livro "A Balada do Ultramar", do Manuel Acácio. Com ele tenho mais confiança, consigo dizer-lhe claramente o quanto o admiro por ter colocado no papel não a sua história, mas a da mulher que amou e que viu morrer. Este livro, como o próprio diz, é um tributo à sua falecida mulher, é, por isso mesmo, uma forma de passados alguns anos este homem se pacificar com a vida e com as feridas que lhe foram infligidas.
Paula Teixeira da Cruz foi uma das pessoas convidadas para apresentar este belo livro e as palavras que proferiu foram tão certeiras e tão plenas de sentimento que me deixaram com as lágrimas nos olhos. E quando vejo pessoas assim, fico feliz por me deixar levar pelos afectos, pela capacidade de chorar comovida com as palavras alheias.
E sinto-me bem mais feliz

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