segunda-feira, janeiro 19, 2009

Morrer de cancro é indigno?

Infelizmente este fim-de-semana foi pesado na contabilidade das mortes de cancro...Tereza Coelho, Luis Vasconcellos, João Aguardela. Todas pessoas que não conhecia (apesar de trabalhar na mesma empresa que Tereza Coelho). Todas elas morreram de cancro, ou de complicações.
No caso da Tereza Coelho foram várias as homenagens prestadas em vários jornais e blogues. A mais bonita, a meu ver, perteceu à Isabel Coutinho. Mas há uma coisa que eu não percebo: no artigo do Público le-se que Tereza Coelho morreu de complicações de uma Pneumonia. é só meia verdade, na medida em que a pneumonia era, já ela, uma complicação do cancro.
E talvez seja um preciosismo meu, que tive cancro. Ou talvez não. Mas parece-me que os jornalistas ainda têm medo de escrever que uma pessoa morreu de cancro. Qual é a diferença entre morrer de cancro, de pneumonia, de enfarte? Por acaso é menos digno morrer de cancro?
Há anos, durante uma entrevista que o meu marido fez a António Mega Ferreira este, que recuperava de um tumor maligno, dizia mais o menos o mesmo, que as pessoas em Portugal morriam de doença prolongada...
Eu tive cancro. E se morrer de alguma complicação da minha doença não quero que se diga outra coisa que não a verdade.

4 comentários:

Lina Santos disse...

Creio que hoje em dia isso de não se dizer que as pessoas morrem de cancro já não acontece tanto, mas se acontece, ou acontecia, é porque era penoso escrever o nome de uma doença que tanto sofrimento causa a quem a tem e aos seus familiares. Acho que é isso. Mas quem sou eu? Eu digo sempre...

JPN disse...

a susan sontag tem um belo ensaio sobre isso.
:)

IPQ disse...

Dizes-me onde o posso encontrar?
Já tinha saudades tuas, Quim

Paula Sofia Luz disse...

Leio-te quase sempre. E por entre as várias razões porque gosto de cá vir, está essa tua delicada frontalidade. De facto, não é preciso ser bruto para dizer as verdades. bj