domingo, março 18, 2007

Contabilidade

Começo a perder a conta aos dias, o que me parece um bom princípio. Já faz quase um mês que ditaram a tua morte. E tu, casmurro como só tu sabes ser, decidiste que ainda não tinha chegado a tua hora e que, dependendo de ti, ainda havias de dar luta.
e sei que é assim que estás, a dar luta. Por mais que mantenhas os olhos fechados quando te visito, por mais cansado e cabisbaixo que te veja sei que, no teu íntimo, não baixaste os braços. Tu lutas, eu sinto-o, mas é difícil, penosamente difícil, manter o espírito 24 horas por dia.
Não é pai? Porque para ti os dias são todos iguais, as horas correrm a um ritmo muito próprio, muito lentamente... demasiado lentamente, posso adivinhar. Dias e noites devem-se confundir na tua memória... o teu calendário deve ser muito peculiar. Imagino o que marcará a evolção do teu tempo... como é que ele corre, como o contabilizas?
Até as visitassão sempre as mesmas...
Nunca foste de grandes conversa mas, agora que não mais voltarás a falar, imagino que tudo seja mais doloroso... ninguém com quem desabafares o que te via na alma... Estás privado de grande parte da tua vida, da tua rotina. Não comes, não falas, não vês os teus amigos, não estás em tua casa... não sabes se isto vai passar ou não....
Eu acredito que ainda tens muito para contar. Eu cá vou estar, a ler-te nos lábios, como gosto de fazer.
Um beijo do tamanho do mundo, e doces sonhos, pai.

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