quinta-feira, fevereiro 15, 2007

A vida é um lugar muito estranho

Esta semana não tem sido particularmente fácil.
Deveria ter começado bem, com o meu aniversário. Sim, eu sou daquelas pessoas que gosta de comemorar o aniversário, que gosta de ficar uma tarde inteira a cozinhar para os seus amigos, que gosta da confusão de vinte pessoas às cotoveladas num terceiro andar de Lisboa. Gosto dos gritos dos miúdos, das conversas supostamente sérias de alguns dos adultos, dos encontros anuais proporcionados, das prendas, dos beijos, dos carinhos. De há dois anos a esta parte costumo dizer que cada ano que faço é um bónus. Não era suposto eu comemorar mais que os meus 29 anos. Mas, sem saber muito bem como, fintei a morte. E por isso, a vontade de comemorar é cada vez maior.
No entanto, este ano o meu aniversário teve um sabor estranho. O meu pai voltou a adoecer. E enquanto eu tentava pensar na alegria de estar viva, sabia-o a agonizar numa cama de hospital, pronto para enfrentar mais uma mutilação definitiva.
Na terça-feira o meu pai foi operado. Depois de uma hemorragia gravíssima que poderia ter ditado a sua morte, o meu pai teve de se render à evidência. Laringectomia total... nunca mais vai falar. Se tudo correr bem (mas no caso dele correr bem tem sido sempre uma miragem) ficará a comer pela sua própria boca, mas não está descartada a hipótese de ser alimentado por uma sonda... 55 anos...
Enquanto o meu pai se submetia a mais uma mutilação no seu corpo, eu enfrentava, à minha própria maneira, um outro desafio. Uma segunda entrevista para emprego. Que consegui, diga-se de passagem. Numa situação normal, este emprego seria o suficiente para eu andar aos pinotes por Lisboa e para telefonar a todos os meus amigos, feliz da vida. Mas naquele momento em que tudo ficou acertado, tive vontade de voar até ao hospital para ver o meu pai e dizer-lhe que havia uma boa notícia para nós.
Tive de esperar até às 10 da noite para o ver e lhe contar.
A nossa vida não tem sido particularmente fácil nos últimos dois anos. Não somos os únicos, bem sei. O mundo está repleto de pessoas que lutam diariamente por um pouco de dignidade. Mas não tem sido fácil.
E tenho dado por mim a pensar nesta coisa das compensações... será? O teu pai não melhora mas, em compensação, arranjas emprego...
Não sei o sentido que tudo isto faz, mas a vida é mesmo um lugar muito estranho

6 comentários:

Margarida disse...

Adoro-te, minha amiga. Não há mais nada que possa dizer.

Anónimo disse...

A vida é mesmo um lugar estranho!
Não te conheço. Mas sinto um carinho muito especial por ti. Desejo do fundo do coração que o teu pai melhore rapidamente e que, dentro do possível, volte a fazer a sua vida normal.

Uma abraço

IPQ disse...

Cara Kitty, obrigada!
Meg, és a maior

MiSs Detective disse...

nunca tinha passado aqui.. FORÇA! nada acontece por acaso :) sê feliz da melhor maneira que conseguires.

S.L.B. disse...

Espero que tudo corra bem com o teu pai.

PARABÉNS pelo emprego! Eu tinha-te dito... :-)

MCosta disse...

Tens uma fonte inesgotável de força dentro de ti. Todos a temos e a maior parte das vezes não sabemos.
Não acredito muito em frases feitas, e nestas alturas elas bem tentam saltar cá para fora, para tentar dar de alguma forma conforto a quem passa pelas coisas estranhas (no mínimo) da vida.
Desejo o melhor para ti (isto não é de forma alguma uma retribuição) e sei que tens a coragem para venceres, seja qual for a tua batalha.
És um grande orgulho para o teu pai.