Não me bastava estar desempregada. Não me bastava o raio da chuva que não me larga. Não me bastava o meu humor de cão, o meu pai internado...
Não me bastavam as incertezas face à saúde a à felicidade dos que me são muito queridos. Não me bastava não ter estômago e por isso ter de levar hoje (logo hoje) a injecção de vitamina B12.
Ainda tinha de terminar o dia a ver o filme do Mel Gibson!
Mas que raio de tendência a minha para procurar o que não devo. Depois do Braveheart juro que ste foi o primeiro o último filme do gajo que vi. Eu não quero violência, não quero ver corações a saltar em mãos, cabeças a rolar, mulheres a ser violadas... por mais verdadeiro que tudo aquilo seja, basta. Eu mereço alguma paz de espírito. E que ela me venha da ficção, dessa mesma ficção que se pode consumir a pedido: pago o bilhete e, durante duas horas, vou alhear-me do meu mundo. Não quero um mundo seja ainda pior que o meu.
terça-feira, janeiro 30, 2007
segunda-feira, janeiro 29, 2007
Odeio
hospitais. Aquele cheiro a desinfectante que se agarra a nós. As camas velhas, as janelas de madeira por onde o vento assobia.
Por que raio não me consigo ver livre deles?
Por que raio não me consigo ver livre deles?
sexta-feira, janeiro 26, 2007
quinta-feira, janeiro 25, 2007
Por mais voltas que dê...
Não consigo fintar eternamente a realidade. e ela chegou hoje, na forma de carta. É verdade. Remetida pelo Hospital de Santa Cruz e a lembrar-me que está a chegar a hora h... A seis de Março as análises, a ecografia e o rx. E a 23 de Abril a consulta.
Começou oficialmente a contagem decrescente para mais uma confirmação da minha sobrevida.
Pensamentos dispersos
- Os dias passam a uma velocidade assustadora. Um a seguir ao outro mas, por vezes, parece que durante o sono me enganaram e passaram quatro ou cinco de uma vez.
- A vida é mesmo uma porra. Há sempre uma areia na engrenagem para nos atrapalhar. O problema é quando a areia se transforma em deserto e, antes de termos tempo para nos levantarmos de uma das quedas que a vida nos proporciona, já estamos outra vez de queixos na areia a ver tudo de uma perspectiva baixa, muito baixa.
- Por que motivo sofrem aqueles que amamos? A cada dia sou surpreendida com um novo drama ou o avivar de um velho... e como não vivo sem os que me são queridos, não consigo deixar de pensar neles e na tremenda injustiça de tanto sofrimento.
- A vida é mesmo uma porra. Há sempre uma areia na engrenagem para nos atrapalhar. O problema é quando a areia se transforma em deserto e, antes de termos tempo para nos levantarmos de uma das quedas que a vida nos proporciona, já estamos outra vez de queixos na areia a ver tudo de uma perspectiva baixa, muito baixa.
- Por que motivo sofrem aqueles que amamos? A cada dia sou surpreendida com um novo drama ou o avivar de um velho... e como não vivo sem os que me são queridos, não consigo deixar de pensar neles e na tremenda injustiça de tanto sofrimento.
quarta-feira, janeiro 24, 2007
morrer em vida
A morte é uma evidência da vida, todos sabemos.
O meu irmão, que é enfermeiro e lida constantemente com esta evidência, dizia-me há uns anos atrás e em tom algo jocoso, que a morte era a primeira doença sexualmente transmissível...
Nos últimos dois anos tenho convivido muito com esta evidência da vida. Talvez até em doses excessivas para alguém que tem 30 anos. O cheiro da morte, a sua ameça, e, em outros casos, a sua evidência, têm-se feito sentir com grande evidência aqui para as minhas bandas.
Na segunda-feira, em conversa com uma amiga, ela dizia-me, referindo-se à doença do seu pai, que a coisa que mais impressão lhe fez, durante uma fase mais aguda, foi a sensação de que ele estava a desaparecer em vida. E o que ela me disse faz todo o sentido porque é exactamente o que sinto em relação ao meu pai. Ele está vivo, sim... mas pouco vivo. A sua vida é tão pequenina, é tão pouca vida. Sinto-o a desaparecer como areia fina por entre os meus dedos e tenho a ilusão de que está vivo porque o vejo todos os dias. Só que quando penso a sério no assunto percebo que ele já não é um vivo completo, não se sente verdadeiramente neste mundo. É como se ele estivesse em transição entre dois mundos, o dos vivos e o dos mortos, e eu, que não sei de que lado ele vai ficar, tento puxá-lo, com todas as minhas forças, para o lado de cá.
O meu irmão, que é enfermeiro e lida constantemente com esta evidência, dizia-me há uns anos atrás e em tom algo jocoso, que a morte era a primeira doença sexualmente transmissível...
Nos últimos dois anos tenho convivido muito com esta evidência da vida. Talvez até em doses excessivas para alguém que tem 30 anos. O cheiro da morte, a sua ameça, e, em outros casos, a sua evidência, têm-se feito sentir com grande evidência aqui para as minhas bandas.
Na segunda-feira, em conversa com uma amiga, ela dizia-me, referindo-se à doença do seu pai, que a coisa que mais impressão lhe fez, durante uma fase mais aguda, foi a sensação de que ele estava a desaparecer em vida. E o que ela me disse faz todo o sentido porque é exactamente o que sinto em relação ao meu pai. Ele está vivo, sim... mas pouco vivo. A sua vida é tão pequenina, é tão pouca vida. Sinto-o a desaparecer como areia fina por entre os meus dedos e tenho a ilusão de que está vivo porque o vejo todos os dias. Só que quando penso a sério no assunto percebo que ele já não é um vivo completo, não se sente verdadeiramente neste mundo. É como se ele estivesse em transição entre dois mundos, o dos vivos e o dos mortos, e eu, que não sei de que lado ele vai ficar, tento puxá-lo, com todas as minhas forças, para o lado de cá.
terça-feira, janeiro 23, 2007
Será que é desta?
Vida interrompida
Aqui estou eu. ainda não bem desempregada, mas já não empregada.
Aqui estou eu em casa, supostamente sem nada que me ocupe mas, nas verdade, atafulhada de afazeres: o pai para levar ao hospital, a mudança do quarto do filho, a arrumação do escritório, mais o filho doente que é preciso levar ao médico e que é preciso cuidar em casa. E a casa, não podemos esquecer a casa, a ementa do almoço e a do jantar também. O telefonema aquela amiga, a visita à outra.
E, tudo muito espremidinho, continua a falatar o tempo para mim. Ainda não li (O Ruben Fonseca vai a meio), o tricot anda a meio gás, e a escrita, bem essa nem se fala.
Falta-me tempo, penso. Mas como se tenho todo o tempo do mundo?
Aqui estou eu em casa, supostamente sem nada que me ocupe mas, nas verdade, atafulhada de afazeres: o pai para levar ao hospital, a mudança do quarto do filho, a arrumação do escritório, mais o filho doente que é preciso levar ao médico e que é preciso cuidar em casa. E a casa, não podemos esquecer a casa, a ementa do almoço e a do jantar também. O telefonema aquela amiga, a visita à outra.
E, tudo muito espremidinho, continua a falatar o tempo para mim. Ainda não li (O Ruben Fonseca vai a meio), o tricot anda a meio gás, e a escrita, bem essa nem se fala.
Falta-me tempo, penso. Mas como se tenho todo o tempo do mundo?
quinta-feira, janeiro 11, 2007
Porque ainda não te escrevi

Primeiro eu. Lembro-me claramente do teu olhar enquanto me dizias que já tinhas mais de cinquenta anos e que era uma injustiça ser eu, com 28, a ficar doente. "Como é que Deus nos fez isto?", perguntaste. Eu nã tinha resposta para te dar. Porque já tinha virado as costas à religião há alguns anos e porque estava ainda, eu própria, à procura de uma orientação, algo que me fizesse ir na direcção certa; procurar resolver o problema, pensava, sem revoltas e, sobretudo, sem entrega.
Tu lá ficaste com o teu coração de mãe dilacerado a pensar o que fazer para me ajudares...
Depois os acontecimentos foram-se sucedendo muito rapidamente, sem tempo para grandes conversas ou grandes reflexões: exames, mais exames, consultas médicas, diagnósticos, prognósticos, operação, quimioterapia, radioterapia, mais internamentos. E tu sempre ali, firme como uma rocha. Todos os dias me ias visitar. Tu e o pai, claro. tomavas conta do meu filho, tomavas conta do meu marido... tomavas conta de mim.
No teu olhar a tristeza e a revolta. Mas para mim tinhas sempre uma palavra de conforto e de luta, "não podes desistir". E eu lutei, porque me estava na alma mas, sobretudo, porque assim me tinhas educado, a não baixar os braços perante a adversidade. E esta nossa luta foi bem dolorosa. Digo nossa porque às minhas dores físicas junto as da tua alma. Tu sofrias por mim.
Depois melhorei e pensei que poderíamos ter alguma paz, que o nosso pequeno clã poderia respirar de alívio.
Mas tu já estavas a empreender uma outra luta: a do pai. Poucos meses depois foi a vez dele. Cancro assim tão logo a seguir ao meu? aí sim, sentiste-te injustiçada. O teu Deus ainda não te tinha dado tempo de te recuperares de uma dor e já estavas tu a ser arrastada, novamente, para os corredores dos hospitais, para aquele ambiente mórbido de batas brancas, meias conversas...
Mas tu, não sei com que forças, lá te mantiveste novamente firme, a amparar o pai nos teu braços, com tanta ternura mãe, tanto amor. Que dedicação.
E o caso dele, que aparentemente era bem mais fácl que o meu, foi-se complicando e complicando até chegarmos aqui a este beco. E estamos assustados. Tu, tu estás exausta, esgotada. Nem sequer tens tempo para as tuas muitas dores. Suspendeste a fisioterapia... "Mas como é que eu posso deixar o teu pai sozinho em casa. Logo agora?".
És maravilhosa mãe. és uma guerreira, uma mulher inteira, completa, defensora da sua família.
Um dia quero ser como tu.
Obrigada
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Vazio
Estou sentada no meu posto de trabalho mas é como se não estivesse.
Os meus pertences foram empacotados, o meu lugar estava ocupado por outra pessoa e o meu patrão estava a dormir.
Passei a manhã a rever mentalmente os meus últimos dois anos de actividade profissional e a apagar e-mails.
Triste não é?
quinta-feira, janeiro 04, 2007
...
Apetecia-me escrever qualquer coisa bonita e poética, repleta de esperança, sobre o ano que agora começou. Mas não tenho motivos para outra expressão que não seja "FODA-SE. ASSIM NÃO DÁ.
quarta-feira, janeiro 03, 2007
Ano Novo...
Depois de quase duas semanas de ausência, eis-me de volta ao conforto do meu teclado e da minha casa.
Foram dez dias de intensa vida social passados entre canjas, sandes de galinha, carne em vinho e alhos, bolo mel, broas de mel, carne em vinho e alhos e mais uma canjinha para a viagem.
Eu bem sei que é só uma vez de dois em dois anos mas, acreditem, é o suficiente.
Não fosse o caso de não ter estômago e acho que estaria entupida até à garganta.
Agora que o ano velho se foi, e com ele as iguarias acima descritas, estou de volta ao mundo real, não o mundo que deixei antes de partir mas, mesmo assim, um mundo real. Um mundo com patrões sacanas e de memória curta....
Parece que vou entrar neste ano à procura de emprego.
E que descansem os senhores o Governo porque, mesmo sem estar a par das novas alterações à lei do subsídio de desemprego, eu vou estar activamente à procura de trabalho
Foram dez dias de intensa vida social passados entre canjas, sandes de galinha, carne em vinho e alhos, bolo mel, broas de mel, carne em vinho e alhos e mais uma canjinha para a viagem.
Eu bem sei que é só uma vez de dois em dois anos mas, acreditem, é o suficiente.
Não fosse o caso de não ter estômago e acho que estaria entupida até à garganta.
Agora que o ano velho se foi, e com ele as iguarias acima descritas, estou de volta ao mundo real, não o mundo que deixei antes de partir mas, mesmo assim, um mundo real. Um mundo com patrões sacanas e de memória curta....
Parece que vou entrar neste ano à procura de emprego.
E que descansem os senhores o Governo porque, mesmo sem estar a par das novas alterações à lei do subsídio de desemprego, eu vou estar activamente à procura de trabalho
Subscrever:
Mensagens (Atom)