domingo, novembro 26, 2006

Em choque

E, de repente, muita coisa parece perder o sentido, muitas das nossas preocupações resumem-se a pouco mais que nada perante algo como a morte.
Quatro amigos partiram para a Patagónia à procura de umas férias de sonho. Quatro cúmplices, quatro pessoas à sua maneira especiais, capazes de passar três semanas juntos em situações nem sempre favoráveis. Foram à procura de uma beleza sem explicação, à procura de momentos únicos, especiais, que fazia sentido partilharem uns com os outros. E acabaram por morrer de uma forma brutal e sem sentido.
Não conheci o André, nem sequer o César; vi a Maria José uma mão cheia de vezes. e a Cláudia, apesar de não ser íntima era, dos quatro, a que melhor conhecia. Amiga de amigos comuns, lá nos encontrávamos em aniversário, à porta do cinema, ou na rua. Sempre com um sorriso nos lábios, sempre com uma frase amiga.
O que sinto em relação a estes quatro amigos é, no entanto, muito forte. De tão pequenino que o mundo é, tínhamos vários amigos comuns. Embora nunca tenha visto o César, ele chegou a ser tema de conversa em algumas situações. Alías, há cerca de duas semanas estava a jantar em casa de uns amigos comuns quando ele enviou um sms a explicar o como as férias estavam a ser espectaculares... nesse mesmo jantar soube que a susete (amiga dos tempos da faculdade) era muito amiga da Zé...
A notícia da morte destes quatro amigos deixa-me sem palavras que me consolem e sem palavras de consolo para as pessoas que me são tão queridas e que sei que neste momento estão a sofrer uma enorme perda. A Susana, a Susete... o que dizer, o que fazer perante semelhante brutalidade? O que fazer para atenuar a dor e a tristeza?
Sempre que penso neles vejo a Cláudia com aquele seu ar despachado e risonho, o mesmo ar com que me encontrou há uns anos na rua, eu grávida de fim de tempo a bufar de calor e ela com o seu ar se virou para mim e me disse "finalmente vou almoçar com alguém que está mais gorda que eu". Tenho a certeza que foram dias fantásticos os que passaram na Patagónia, tenho a certeza que o que viveram momentos inesquecíveis.
Tenho muita pena que não voltem para contar o quão maravilhosos foram os cumes, as crateras, os glaciares os lagos que viram. Tenho muita pena de não saber, por intermédio dos amigos comuns, como tudo foi maravilhoso.
Deixo-lhes aqui a minha homenagem. A eles, às famílias e aos muitos amigos que tinham.