sexta-feira, dezembro 16, 2005

Para o meu pai


Ontem fui ao cinema ver este filme. Elizabethtown.
Gosto de filmes assim: com histórias simples, mas bem feitos, bem interpretados, bem filmados. Sem grandes pretensões. Filmes que não querem mudar o mundo, que, certamente, não vão mudar a História do cinema mas, mesmo assim, filmes que me fazem rir e chorar, que me fazem pensar na vida e em como ela é perene.
Às vezes acho que fiquei mais lamechas para certo tipo de histórias e mais cabra insensível para outras, aquelas em que toda a gente chora. Gostei da capacidade de relativizar os dramas, de tentar encontrar qualquer coisa de bom em tudo o que acontece. Celebrar a vida, mesmo quando ela se mistura com a morte.
Ver este filme fez-me pensar que gostava de ter uma relação de "best friends" com o meu pai. De não ter esperar que ele morra para perceber isso. Por isso chorei. Porque o adoro, mas também porque sei que esse fosso geracional existe entre nós é impossível ultrapassar. Às tantas alguém no filme diz que não podemos ser o melhor amigo dos nossos filhos. Fiquei duplamente triste: percebi que isso é verdade na relação com o meu pai e fiquei com medo que isso venha a acontecer na relação com o meu filho. Agora que o meu pai está doente gostava que ele visse em mim mais do que uma filha. Uma companheira que percebe perfeitamente o que ele está a passar, uma confidente. Mas acho que isso é difícil. Embora perceba que ele se esforça para estar perto de mim, há barreiras que estão construídas há muito tempo. Na cabeça dele o pai não é o amigo, não é, sobretudo, aquele que precisa de conforto. É o que dá. Também fiquei a pensar que, mais que tente contrariar essa tendência, de certeza que vai haver uma altura na vida em que o meu filho vai sentir o mesmo. Que eu não sou a amiga, sou a que impõe regras, limites... barreiras. E daí? Talvez seja essa a natureza de ser pai.

2 comentários:

Anónimo disse...

Liguei-te. Não atendeste e deixei recado. Era para me encontrar contigo mas, nesta altura, percebo que estejas numa fase em que não te apeteça encontrar com as pessoas e, mais ainda, não te apeteça telefonar de volta a dar uma justificação. Percebo. Só queria que soubesses que percebo e que este blogue acaba por ser mais importante do que imaginas porque enquanto fores escrevendo, podes não responder, eu vou sabendo de ti. Enquanto te doer a vida, significa que estás viva, em todos os sentidos e, por muito que te admire por tudo e nem imagine como deve ser dificil, de algum modo, vou acompanhando o que vais vivendo.
C.G

IPQ disse...

Querida CG, não vi nem ouvi a tua chamada... Ligo-te ainda hoje. Tenho saudades
Princesa das estrelas