Já lá vão quatro horas e meia... o meu pai continua naquela sala de operações lá longe onde a minha vista não o consegue alcançar. Nem a ele nem à minha mãe, sozinha naquele hospital imenso, num país que não é o seu e onde mal percebe quem a rodeia. Fico preocupada, na realidade, mais por mim (que fico ansiosa e lhe ligo de vinte em vinte minutos) do que por ela. Porque a minha mãe vence a adversidade da língua com o poder da sua bondade e do seu amor. Deviam vê-la este fim-de-semana, enquanto lá estive, a apresentar-me as suas novas amigas, enfermeiras, auxiliares, mulheres que viram no seu rosto o amor incondicional a um companheiro, a dureza de uma vida com muito sofrimento e um coração imenso capaz de, mesmo triste, dar um carinho a quem mais precisa.
Chegámos a meio da operação. As últimas notícias que temos são das 20h. A operação estava a decorrer com normalidade. Normalidade... palavra estranha no vocabulário do meu pai, um homem a quem falta quase tudo... palavra estranha para descrever uma cirurgia tão arriscada.
Faltam, pelo menos, mais quatro horas. Esta fase inicial de angústia só terminará no momento, madrugada dentro, em que a minha mãe telefeonar a dizer que tudo correu bem. E eu acredito que tudo vai correr bem, que ele vai superar esta etapa... ele a quem deram como morto há mais de um ano. Se nessa altura ele acordou também o irá fazer agora.
E deito-me com a certeza que o telefone vai tocar, madrugada dentro, para nos dizer que o nosso amor, a nossa corrente de energia, o trouxe de volta mais completo.
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