sexta-feira, abril 27, 2007

DESEJO


Gostava de chegar aos 45 anos e poder dizer o que diz esta mulher.
Nestes dias sito-me melhor comigo. Mais acompanhada, também.

25 de Abril

Esta quarta-feira, pela primeira vez em muitos anos, não desci a Avenida. eu, que nem era nascida no 25 de Abril, sempre gostei do ritual de descer a Avenida. De me encontrar com a Margarida, com o Bruno, com a Lena... às vezes o Ricardo. Não esquecer a data, mesmo que dela não tenhamos memória directa. Assim penso. Foi essa vontade de não esquecimento que me levou, por exemplo, a descer a Avenida há dois anos, depois da primeira semana de quimioterapia. A teimosia de celebrar. Quando olho para essas fotos até sinto um arrepio. Eu era uma sombra do que sou agora, sendo que o que sou agora também é, de certa forma, uma sombra do que já fui. Mas isto para dizer que nem a doença me afastou da Avenida.
Esta quarta-feira, no entanto, não a desci. e nem uma vez me ficou um sentimento de vazio ou de dever não cumprido. Esta quarta-feira voltaste a sair do hospital e contigo lá fomos nós, em romaria. A casa de um primo. Devias querer sentir o ar fresco na cara, ver os pinheiros a baloiçar. Foi um dia em cheio. Muito cansativo. Para ti e para todos nós, principalmente para o mano, que tem de te acompanhar todos os minutos: medicar, aspirar, alimentar.... se não é fácil para nós, imagino para ele...
Mas lá fomos, com as crianças atrás, com o farnel para o almoço, com um verdadeiro dispositivo para te acompanhar... e eu, pela primeira vez, não senti falta do meu passeio pela Avenida.
Tu estavas muito dividido, entre a alegria de estar fora do hospital e a insatisfação por essa saída ser tão breve. Querias ficar em casa até domingo. Tudo o que vias, tudo o que sentias vi nos teus olhos que te dava alegria. Mas também senti que te deixava triste, porque, no fundo, estavas a contactar com uma normalidade da qual não podes desfrutar. Como se te estivessemos a mostrar tudo o que a vida pode ter de bom e, de seguida, te dissessemos que, infelizmente, não o podes viver.
No final do dia achei-te particularmente cansado. Para te dizer a verdade, todos nós estávamos esgotados. Estamos felizes por te ver e por te ter, mas estamos sempre alerta, e isso cansa, consome.
Ao entrares na clínica lá estava a lágrima pronta a sair... o teu semblante voltou a fechar-se. Mas eu senti-te forte e queria dizer-te que tu foste o meu melhor 25 de Abril.

terça-feira, abril 24, 2007

O encontro do homem com o seu espaço e com a sua força

Foi a primeira vez, em mais de dois meses, que te vi sem pijama, com a tua roupa, meias, sapatos...; foi a primeira vez que saíste do hospital, viste o sol, sentiste a brisa na cara.
Estava em casa à tua espera, com a mãe. As duas numa grande ansiedade. Ela a olhar para o relógio a cada dois minutos, eu a olhar pela janela na esperança de ver o carro. Tudo a postos, o teu sofá, os chinelos, o telecomando....
O dia passou rápido, um pouco atribulado, até. Não tens a resistência de outros tempos; os gritos dos miúdos acabaram por te incomodar. Mas deu para ver e para sentir o quanto gostaste daquelas horas no teu espaço, na tua casa.
O mais espectacular da tua visita a casa, no entanto, presenciei ontem quando te fui visitar ao hospital. Pela primeira vez vi-te a fazer exercícios. Primeiro com a boca, depois com as pernas. E falaste-me sem que tivesse de ser eu a dizê-lo. Disseste-me claramente que querias fazer-te entender. É necessário um esforço de ambas as partes: teu para soletrares melhor as palavras e nosso para te podermos ler os lábios.
Ontem, quando cheguei a casaia leve, mais feliz, por ver que estavas animado.
Ontem pensei que não importa o tempo, nem se esta "recuperação" o é mesmo ou se é apenas uma ilusão. O importante é que este tempo te está a deixar mais feliz e mais próximo de nós e isso é que é o fundamental.
Mesmo que hoje as notícias sejam más, mesmo que voltemos a andar para trás. O dia de ontem ninguém nos tira. Muito menos o de domingo.

quinta-feira, abril 19, 2007

Momento de ternura linguística

Mae: Filho o pai está cansado por que foi à discoteca.
Filho: Coteca.

ansiedade em volta do tempo

Para quem não sente o tempo passar, porque está fechado num quarto onde todos os minutos são iguais, e porque vive uma vida da qual foram retirados quase todos os referenciais temporais, estavas muito ansioso com o tempo.
Primeiro o pedido do relógio. Chegou no dia do teu aniversário, com direito a papel de embrulho e tudo.
Agora, que já tens relógio, insistes em perguntar que dia é. Hoje enquanto te beijava percebi essa tua ansiedade. Queres tanto visitar a tua casa, estar sentado no teu sofá... nem que seja por uma mão cheia de horas, que não vês maneira do tempo passar. Falta pouco, pai. Deve ser já no domingo.

quarta-feira, abril 18, 2007

Vazio

Sento-me à frente do computador com vontade de escrever, de tentar passar para este espaço parte da confusão que ocupa a minha cabeça, mas acabo quase sempre por embater numa série de dúvidas. Como dizer o que sinto sem estar sempre a escrever a mesma coisa? Eu tenho vontade de escrever, é um acto libertador, deixa-me aliviada. Mas, quando começo a encadear pensamentos, fico sempre com a sensação de que, invariavelmente, estou sempre a escrever a mesma coisa.
E depois penso, mas se a minha vida tem, nos últimos tempos, sido sempre este misto de dor e angústia como posso passar ao lado dela? Sem a descrever, sem a escrever?
O meu pai está internado há mais de dois meses. Foi internado na véspera do meu aniversário. E, desde esse dia, nunca mais voltou a respirar o ar da rua. Este ar de Primavera que nos enche os pulmões e nos faz pensar na vida.
Ontem, depois de conversar com a minha mãe, percebi que ela está quase a atingir o limite das suas forças. Sente-se perdida, sem saber o que esperar da vida. Percebi com clareza que o que mais lhe custa é a mentira. É não poder olhá-lo nos olhos e responder com franqueza às suas questões. O meu pai acalenta a ilusão de sair do hospital, em definitivo. O meu pai ainda crê que pode ficar “bem”, dentro de uma série de limitações. E a minha mãe, sua companheira de mais de 30 anos, não lhe pode dizer a verdade. Sendo que nem ela própria tem uma noção rigorosa do que é a verdade dele. Estamos neste limbo, entre médicos, entre opiniões e entre aquilo em que queremos acreditar. É realmente difícil entender que ele está a morrer. Olhando para ele não tenho essa noção. Ele está fisicamente melhor, não tem, nem de longe nem de perto, o aspecto de um moribundo. Mas está a morrer. Essa é a verdade mais dura e crua de aceitar.
O meu pai tem um buraco de 20 cm no pescoço. Um buraco a céu aberto, que nunca fechará por si, que implica uma cirurgia muito grande só para o fechar. O problema é que fechar esse buraco de pouco adianta sem tentar reparar todo o mal que está lá dentro: uma série de órgãos queimados e destruídos pela radioterapia. Fechar aquela cratera (e isto se ele resistir à operação) poderá levá-lo para casa, mas por pouco tempo. Só que com tantas lesões internas e com um risco de hemorragia tão grande será um milagre encontrar um médico que o queira operar.
E perante isto o que nos resta?
Eu sei que é bom tê-lo e que não se deve desistir, e mais isto, e mais aquilo. Mas a minha cabeça não se rege por estas regras. No que penso na maior parte do tempo é nisto:
O meu pai nunca mais voltará a falar; o meu pai nunca mais voltará a cantar, como tanto gostava; o meu pai nunca mais sentirá o paladar do que quer que seja; o meu pai nunca mais poderá beber um café, sentir o sabor de um morango, beber um bom copo de vinho… o meu pai não sabe distinguir a hora do almoço da hora do jantar, porque esses rituais já não existem; o meu pai perdeu o sabor e com ele o olfacto.
Triste, não é?
E agora, que acabo de escrever, sinto-me numa circunferência. Não disse nada de novo, não sinto nada de novo. Nada mudou na minha vida. A não ser, talvez (e isto também é em si triste), uma certa normalidade nesta tristeza, neste acostumar de tristezas feitas rotinas.

terça-feira, abril 17, 2007

Preparativos

Este fim-de-semana deves ir a casa. Não para casa; vais apenas de visita. Que raio de vida esta que um homem vai de visita à sua casa, ao seu sofá... à sua vida.
A mãe manteve tudo como no dia 11 de Fevereiro, o último dia que estiveste em casa. Tudo imaculadamente limpo, como só ela é capaz. Mas nada do que é teu falta. Tudo no seu lugar.
Nós, por cá, estamos em preparativos. E que estranho que é preparar a tua visita. Alegria de te ver fora daquele espaço de cheiro a desinfectante onde entramos de máscara, bata e luvas. E uma estranheza muito grande de não saber o que te pode acontecer. Andamos contigo consciente de que és como uma bomba-relógio que a qualquer momento nos pode rebentar nas mãos. Mas vou tentar não pensar nisso. Vou tentar que essa visita se concretize mesmo, que vejas a luz do dia, que vejas como as árvores já estão cheias de folhas... que sintas o aroma da Primaver.
Vou tentar afastar de mim os pensamentos que tantas vezes me visitam e consomem. Vou tentar acreditar que ver-te, nem que seja por um dia, em casa, vale a pena todo este sofrimento e angústia.
Por ti pai, vou pôr-me bonita, como quando era criança e tinha de ir à missa com roupa domingueira. Nada de modernices. Vou tentar ser o mais possível a tua menina.
Por ti. Por mim.

Gostos

Gosto particularmente do calor. Dos corpos destapados, dos pés quase descalços, do cheiro do mar, do peixe grelhado, das tarde com caracóis, dos risos abertos de quem se sente em paz.
Gosto de me sentir bem com a vida.
Gosto de ver os meus amigos, de os abraçar. Gosto de sentir uma necessidade maior de os ver, de lhes tocar.
Gosto de gostar de estar viva, mesmo que às vezes a tristeza me visite.

segunda-feira, abril 16, 2007

nós

Ontem jogámos às cartas, uma rotina que se começou a instalar nas minhas visitas. Vi que me esperavas e vi claramente que, apesar de tudo, estavas à espera que te desafiasse para um jogo de cartas... doi-me ver-te assim, uma sombra do que foste e sem ter certezas que toda esta dor e luta te conduza para fora do hospital...
Mas reconforta-me sentir que te posso falar do meu dia, que te posso escrever um bilhetinho, que me esperas para te fazer a barba.
Mas não deixo de me sentir revoltada com a forma como vives, com o sofrimento ao qual estás sujeito. or vezes penso se terás a verdadeira noção do estado em que te encontras, dos prognósticos que te traçam... é uma grande frustração.
Eu estou feliz por estares vivo, por respirarmos o mesmo ar, por te sentir, por fechar os olhos e te saber no meu mundo. Mas, em certos momentos, não consigo livrar-me desta dualidade, de te querer mas de achar esse mesmo querer uma injustiça.

Descobertas

O que eu gostei daquele pedaço de domingo à tarde.
As afinidades são mesmo fantásticas. Gostei muito de ver a pessoa que leio com tanta atenção e de quem me sinto tão próxima nestes altos e baixos da vida.
E o que mais me tocou foi aquele pedaço de papel, aquela fotografia de dois sorrisos tão cúmplices.
Obrigada:)

quarta-feira, abril 11, 2007

O dia em que Sócrates mostra o diploma

Ontem vi o debate da SIC Notícias sobre o silêncio de José Socrates em relação à embrulhada que é/foi a sua licenciatura.
Houve várias coisas que me deixaram pasmada. A mais grave delas foi que, a meu ver, nenhum dos presentes tocou no essencial desta questão. A mim, enquanto cidadã portuguesa, pouco me interessa se José Sócrates é ou não engenheiro, concluiu ou não a sua licenciatura, fez ou não uma pós-graduação. Isso para mim são pormenores (e aqui, e apenas aqui, concordo com João Marcelino).
O que a mim verdadeiramente me preocupa são as condições que proporcionaram a José Socrates concluir a sua licenciatura. O grave para mim é que ele (poderia ser qualquer outro membro do governo) tenha concluido a sua licenciatura de forma facilitada por ser membro do governo. E, nesse sentido, é também grave perceber quais as contrapartidas para tal favorecimento. O que é que o governo de António Guterres deu em troca à Universidade Independente para que esta atribuísse o grau de licenciatura a José Sócrates.
Eu não tenho certezas absolutas em relação a esta questão. Mas tenho cada vez mais dúvidas e algumas suspeitas que não me parecem infundadas.
A pressão que o gabinete do PM fez nos mais variados meios de comunicação para calar esta notícia e para não permitir mais investigações é, no mínimo, preocupante.
A mim, neste momento, não me descansará ver da mão do PM o diploma que prova a sua licenciatura. Ele até pode apresentar dez diplomas de dez universidades diferentes, pintados de várias cores... o que quero saber é em que circunstâncias ele conseguiu esse diploma, a troco de quê... Convem não esquecer a embrullhada em que a Universidade Independente está mergulhada. São falcatruas atrás de falcatruas. Já deu para perceber que a malta da empresa que gere aquele estabelecimento de ensino, não é de confiança. E ontem mesmo, na carta aberta que escreveram a Mariano Gago, deixam no ar que alguém está a tentar calar a UNI, a tentar ocultar a verdade. Para mim isto cheira a chantagem. E aqui tudo se agrava, perceber até que ponto, por causa de uma porcaria de um diploma, o Primeiro Ministro de Portugal se colocou nas mãos de gente daquele nível.
Fiquei pasmada por nenhum dos presentes, directores de meios de comunicação, conseguiu ou teve a coragem de chegar aqui...
Fiquei ainda mais pasmada com a atitude de João Marcelino. A fazer de advogado do diabo numa clara manobra de estratégia. Agora que o DN anda pelas ruas da amargura e que João Marcelino se vê à frente de um jornal (mesmo assim) de referência, espera, com esta defesa do bom nome do PM aproximar-se do gabinete do mesmo para relações futuras. Ou ele pensa que enganou alguém com aquela atitude desplicente? Se tudo o que se tratou ontem à noite são pormenores, porque foi João MArcelino até aos estúdios da SIC? Porque permite que o jornal que dirige dê páginas inteiras de informação sobre o assunto? Ontem mesmo o DN trazia uma lista de perguntas às quais Sócrates não respondeu e que deveriam ter resposta...

terça-feira, abril 10, 2007

Remar

Por mais que tente, não consigo.
Andamos algum tempo a bater com a cabeça na parede, a pensar que já nada vale a pena, a desejar que te vás com a dignidade que ainda te é possível. Mas depois, quase sempre arrastadas pela força do mano, lá vamos nós as duas, eu e a mãe, atrás dele e de ti. Só mais uma tentativa. Não se pode desistir, diz o mano. Mais uma carta, um hospital, uma consulta, uma opinião. E o que nos resta senão tentar tudo? Se te fores, pelo menos fica-nos a certeza de que tudo foi tentado. E mais vale que te vás numa mesa de operações, a tentar tudo por tudo, do que te ires no meio de uma estúpida hemorragia, preso a uma sala de hospital, onde nada do que é normal te é ou será alguma vez permitido.

A dança em mim


Nos últimos anos tenho-me afastado da dança. Por circunstâncias várias. Não interessa agora quais. A constatação é esta: tenho-me afastado dela. Não significa isto que a dança tenha deixado de ter importância para mim. Ela continua a preencher um lugar único no meu ser. Preenche-me como nenhuma outra forma artística. e daí talvez venha a minha exigência em relação a ela. Não que eu ache que, de cada vez que vejo um espectáculo, ele tenha de ser revolucionário ou trazer algo absolutamente novo. As fórmulas, muitas delas, já foram inventadas, exploradas, reapresentadas...
Mas não consigo deixar de ficar decepcionada quando um espectáculo me parece preguiçoso, presunçoso, óbvio. Principalmente quando se trata de alguém como a Pina Bausch.
Na sexta-feira fui ver o espectáculo "for the children...". Percebi o conceito, achei graça a um ou dois quadros; é indiscutível a qualidade dos bailarinos.... mas, no geral, fiquei maçada, zangada mesmo, com o que vi. Muito lugar comum, uma peça muito grande, demasiado grande, colagens musicais por vezes despropositadas.... saí do Teatro Camões sem qualquer tipo de preenchimento, sem sentir o gesto, sem ver a coerência.
Da próxima vez que tiver contade de comprar um bilhete para ver a Pina Bausch, espero dar com a cabeça na parede, à espera que me passe a vontade

segunda-feira, abril 09, 2007

Páscoa sem sabor

A minha Páscoa sempre teve cheiro de cabrito assado no forno. A minha Páscoa sempre teve o som do compasso a tilintar de casa em casa. A minha Páscoa, embora há já muito tempo tenha perdido os hábitos da igreja, sempre foi de terreiros lavados, casa aprumada, missa cantada e família reunida à mesa. A minha Páscoa, mesmo quando era passada em Lisboa e não na aldeia dos meus pais, sempre foi sinónimo de algazarra , vinho tinto, conversas acaloradas e mesa posta até à noite.
A minha Páscoa foi, desde sempre, liderada pela figura do meu pai, sentado à cabeceira da mesa, de olhar preenchido e realizado por nos ver juntos.
Este ano a minha Páscoa foi diferente, muito mais triste. A reunião familiar foi trocada por um singelo almoço só com a minha mãe num restaurante chinês. E no momento em que me sentei e vi todas aquelas famílias reunidas naquele espaço, dei ainda mais valor à minha Páscoa perdida, lá longe na aldeia. Que tristeza que senti. E que saudades do som das nossas vozes umas sobrepostas às outras.

quinta-feira, abril 05, 2007

A morte do tempo

"Hoje o meu relógio morreu. Parti-o eu. Para que quero saber as horas aqui? Juntamente com o relógio também o tempo morreu para mim. Matei o relógio porque o meu cativeiro estava a ficar cansado desta pequena máquina de fabricar minutos inúteis. Desintegrado o átomo, era preciso desintegrar o instante. Penso que consegui fazê-lo ao partir o relógio."
Jesús Zárate
A Prisão

terça-feira, abril 03, 2007

Dúvidas

Vivo uma dualidade que me consome. Por um lado tento recuperar alguma da normalidade dos meus dias. A vida assim o exige. Tenho uma casa, uma família, um quotidiano para levar em frente. Mas, por outro lado, não me consigo separar de ti. Da tua existência cada vez mais perene nessa cama de hospital. Da tua força cada vez maior, a contrariar o que todos sabemos que vai acontecer.
Não dá para imaginar como consegues acreditar na vida apesar de tanto sofrimento, de tanta angústia. E eu já não tenho conforto possível. Para todos os lados que me viro só vejo tristeza e pesar. E depois, depois há o que secretamente desejo. Eu já tenho saudades, pai, mas muitas vezes, em surdina, a meio da noite, penso que já não estás aqui e, não sei porquê, ou talvez saiba e não o queira admitir, esse pensamento apazigua-me de alguma forma.
Será que tenho esse direito?