Aqui fica o primeiro texto (e respectiva foto) que escrevi para a Pais & Filhos.
Sou mãe de um super-herói
Ser mãe é ser muitas coisas. A grande maioria, quando passada para o papel, raramente escapa aos lugares comuns, mas não menos raramente escapa à verdade.
Quando os nossos filhos nascem há algo em nós que muda para sempre. Não sei explicar muito bem: é um misto de “as pequenas coisas fazem agora outro sentido” com “o sorriso dele é mesmo o mais lindo do mundo" com talvez uma pitada de “mas onde é que vivi este tempo todo antes dele nascer?”.
Ser mãe é ser muitas coisas, quase todas maravilhosas, mas algumas delas muito intensas e assustadoras. Ser mãe é sinónimo (mais cedo ou mais tarde) de noites mal dormidas, de ataques de nervos, hipersensibilidade a bolas, colares ou pulseirinhas.
Nestes parcos três anos de maternidade várias foram as vezes em que desejei ser amiga do Super-Homem ou do Homem-Aranha. Nem que por breves instantes. Só para que me ajudassem um pouco, para que usassem os seus super-poderes para me guiar neste caminho, por vezes sinuoso, que é o da maternidade.
Pois é, confidência absoluta: ser mãe nem sempre é fácil. Às vezes é até muito difícil. Muitas gestões a fazer, inúmeras birras a contornar, muitas cedências, algumas desistências e uma grande dose de gestão… de feitios, de conflitos, de sensibilidades, de personalidades.
Mas eu, enquanto mãe de um pequeno e maravilhoso ser de três anos, tenho uma confissão a fazer: sou mãe de um super-herói. O meu filho tem super-poderes e, nestes seus três anos, já fez mais por mim do que alguma vez algum medicamento ou médico poderão fazer e já contornou mais crises que muitos psicanalistas famosos.
Há cerca de dois anos e meio, tinha o meu filho acabado de fazer oito meses, foi-me diagnosticado um cancro. Pouco houve a dizer: a cirurgia era obrigatória, incontornável mesmo, e o futuro uma incógnita. Por defeito profissional, ou talvez por feitio, exigi saber a verdade e confesso que não foi fácil lidar com o que ouvi. Tanta incerteza, tantas caras baixas, tantos “nem imagina como isto é raro na sua idade”… foi um choque horrível, senti que o mundo tinha aberto a sua grande boca e estava pronto para me engolir. Por breves momentos, logo ali, naquela sala de espera de hospital onde ouvi da boca do meu irmão o que sentia que existia mas teimava em não acreditar, senti-me sugada por uma fenda imensa que se abriu debaixo dos meus pés. Só que, depois do horror momentâneo, cresceu em mim uma vontade maior: a de me fazer lembrar ao meu filho. Se eu morresse ali, aos seus oito meses, ele nunca se iria lembrar de quem tinha sido a sua mãe, das brincadeiras que já partilhávamos, dos beijos, dos abraços, do meu toque, do meu cheiro. E essa foi uma das maiores armas com que lutei nos longos meses que se seguiram. A convicção de que era obrigatória a criação , a cimentação de uma memória de quem eu era, de quem era a MÃE. Não podia abandonar ali a luta, entregar-me à doença, aos diagnósticos, ao prognóstico…
E por isso sei que sou mãe de um super-herói, porque o meu filho, do alto da inocência dos seus três anos, já me permitiu muito, já me ajudou a superar muitos obstáculos, muitos enjoos, muitas dores, muitas dúvidas. Sim, porque quando falamos de verdadeiras dificuldades, as noites mal dormidas devido a uma febre que teima em não baixar ou a uma otite, são um pequeno pormenor. Por isso deixo aqui uma pequena sugestão: da próxima vez que o limite se estiver a aproximar perigosamente e que o filho que está à nossa frente se tenha transformado, vá-se lá saber como, numa força demoníaca que temos vontade de exterminar, pare, pense três segundos na última grande frase que ele lhe disse, no última doçura, no último beijo, no último abraço e de como se sentiu feliz e especial com isso. E agora diga-me lá se não partilha casa com um, dois ou mais super-heróis.
Quando os nossos filhos nascem há algo em nós que muda para sempre. Não sei explicar muito bem: é um misto de “as pequenas coisas fazem agora outro sentido” com “o sorriso dele é mesmo o mais lindo do mundo" com talvez uma pitada de “mas onde é que vivi este tempo todo antes dele nascer?”.
Ser mãe é ser muitas coisas, quase todas maravilhosas, mas algumas delas muito intensas e assustadoras. Ser mãe é sinónimo (mais cedo ou mais tarde) de noites mal dormidas, de ataques de nervos, hipersensibilidade a bolas, colares ou pulseirinhas.
Nestes parcos três anos de maternidade várias foram as vezes em que desejei ser amiga do Super-Homem ou do Homem-Aranha. Nem que por breves instantes. Só para que me ajudassem um pouco, para que usassem os seus super-poderes para me guiar neste caminho, por vezes sinuoso, que é o da maternidade.
Pois é, confidência absoluta: ser mãe nem sempre é fácil. Às vezes é até muito difícil. Muitas gestões a fazer, inúmeras birras a contornar, muitas cedências, algumas desistências e uma grande dose de gestão… de feitios, de conflitos, de sensibilidades, de personalidades.
Mas eu, enquanto mãe de um pequeno e maravilhoso ser de três anos, tenho uma confissão a fazer: sou mãe de um super-herói. O meu filho tem super-poderes e, nestes seus três anos, já fez mais por mim do que alguma vez algum medicamento ou médico poderão fazer e já contornou mais crises que muitos psicanalistas famosos.
Há cerca de dois anos e meio, tinha o meu filho acabado de fazer oito meses, foi-me diagnosticado um cancro. Pouco houve a dizer: a cirurgia era obrigatória, incontornável mesmo, e o futuro uma incógnita. Por defeito profissional, ou talvez por feitio, exigi saber a verdade e confesso que não foi fácil lidar com o que ouvi. Tanta incerteza, tantas caras baixas, tantos “nem imagina como isto é raro na sua idade”… foi um choque horrível, senti que o mundo tinha aberto a sua grande boca e estava pronto para me engolir. Por breves momentos, logo ali, naquela sala de espera de hospital onde ouvi da boca do meu irmão o que sentia que existia mas teimava em não acreditar, senti-me sugada por uma fenda imensa que se abriu debaixo dos meus pés. Só que, depois do horror momentâneo, cresceu em mim uma vontade maior: a de me fazer lembrar ao meu filho. Se eu morresse ali, aos seus oito meses, ele nunca se iria lembrar de quem tinha sido a sua mãe, das brincadeiras que já partilhávamos, dos beijos, dos abraços, do meu toque, do meu cheiro. E essa foi uma das maiores armas com que lutei nos longos meses que se seguiram. A convicção de que era obrigatória a criação , a cimentação de uma memória de quem eu era, de quem era a MÃE. Não podia abandonar ali a luta, entregar-me à doença, aos diagnósticos, ao prognóstico…
E por isso sei que sou mãe de um super-herói, porque o meu filho, do alto da inocência dos seus três anos, já me permitiu muito, já me ajudou a superar muitos obstáculos, muitos enjoos, muitas dores, muitas dúvidas. Sim, porque quando falamos de verdadeiras dificuldades, as noites mal dormidas devido a uma febre que teima em não baixar ou a uma otite, são um pequeno pormenor. Por isso deixo aqui uma pequena sugestão: da próxima vez que o limite se estiver a aproximar perigosamente e que o filho que está à nossa frente se tenha transformado, vá-se lá saber como, numa força demoníaca que temos vontade de exterminar, pare, pense três segundos na última grande frase que ele lhe disse, no última doçura, no último beijo, no último abraço e de como se sentiu feliz e especial com isso. E agora diga-me lá se não partilha casa com um, dois ou mais super-heróis.
6 comentários:
admiro-te muito
claudia
ihihih eu já li, na própria revista e adorei, gosto muito da forma como escreves e do que escreves, um beijinho grande com admiração.
Está lindo. Muitos parabéns. Até me deixou com uma lagriminha no canto do olhos. :-)
Beijinhos
Temos colunista! A sério, está lindo e tu és uma grande mulher.
A vizinha.
a senhora faz-se, dona Inês :)
mena
Um dia, o teu super-herói vai cantar-te esta canção:
It was not that long ago it first occurred to me
That my mother was a person in her own right
Now I realize how very lucky I have been
And there, but for the grace of God, go I
Mother dear - she can see inside
Mother dear - and I've nowhere to hide
Mother dear - did I spoil your plans?
Mother dear - I do the best I can
When I was a teenager I really did believe
That my parents had adopted me
And the way I carried on they must have thought
They'd brought the wrong little baby home from maternity
I'd like to say I'm sorry but my...
Mother dear - she already knows
Mother dear - she'll never let me go
Mother dear - kept me warm and safe
Mother dear - I'll never lose my faith in mother dear
If I ever get arrested by the C.I.A.
Because they take me for a foreign spy
They wonít need no lie-detector, all they'll have to do
Is make me look into my motherís eyes
Mother dear - she can see inside
Mother dear - and I've nowhere to hide
Mother dear - kept me warm and safe
Mother dear - I'll never lose my faith in mother dear
Mother dear - did I spoil your plans?
Mother dear - I do the best I can
Sim, porque tu já és uma super-heroína desde o que dia em que ele nasceu. Basta perguntares-lhe...
Gostei muito de ler o teu artigo.
Beijos
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